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Copyright © all rights reserved | 2021 Ana Telhado

Mª de Lurdes Pelicano

Fotografias de “permanência”

Ana Telhado deixa-nos na África. 

Na exposição “Cartografia” realizada em Maio deste ano na galeria Módulo, não só nos transporta para a Guiné, como nos deixa lá. 

         O estudo dos movimentos, a integração dos corpos na paisagem - por vezes natureza apenas: uma mulher deitada no centro da estrada do embondeiro com um cão que passa indiferente aos dois; outras vezes uma natureza escultórica construída por mão humana e pela própria natureza, fundidas num abraço de harmonia: são paredes, portas ou janelas enlaçadas por troncos e raízes com a luz a jorrar e a brincar com os elementos ao esconde, esconde. A presença das meninas: acocorada ou deitada nos parapeitos das janelas, qual pequeno eunuco que, cansado de prisão, forma o salto para a vida, ou, plácida, olhos postos no céu a contemplar o infinito do sonho que traz no seu ser, sonho de pureza e inocência; de pé, pequenina, junto à porta, num porte de sacerdote egípcio, ou então, também de pé, no branco areal, esguia, ladeada de bacia contentora de uma escassa água transparente, olhar apenas penetrante, raiz na mão  a ligá-la ao chão como se de árvore ela mesma fosse feita, ou,  de olhos tapados pela mão direita, hirta, no centro de um portal sem porta, feito de dois paus tão hirtos e rígidos quanto ela própria, a remeter-nos para o portal do mundo no limiar do qual o ser humano se encontra de olhos tapados para não ver a precariedade da existência, a precariedade daquele limiar entre o profano e o sagrado. A fotografia de Ana Telhado prende. Ela alia a profundidade espacial e temporal à profundidade do ser e, também esta característica, transforma o seu trabalho contemporâneo num clássico formal.

   A respeito desta série, disse Celso Martins: “Permanência é a palavra-chave para nos relacionarmos com a fotografia de Ana Telhado. … Não se trata portanto de desvendar o “outro” etnograficamente, mas de ir ao encontro dele com a consciência de que há uma partilha da condição humana e que de qualquer coisa desse convívio permanece secreto em cada imagem. Quase todas possuem uma qualidade quase escultórica…”

 

    Ana Telhado (1981,Lisboa) artista emergente, frequenta o mestrado em pintura, na FBAUL. A exposição Cartografia, nove fotografias em emulsão de gelatina e  prata sobre papel, resultou de uma viagem que fez, em 2007, à Guiné-Bissau, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. 

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